Estudante de educação física virou símbolo dos heróis anônimos no caos. Uma jovem e o chapéu negro do namorado representaram um país em luto.
— G1
Algumas imagens marcam pelo poder que possuem de registrar acontecimentos, sentimentos e emoções. O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, produziu muitas cenas assim, que preferíamos nunca ter testemunhado. Mas talvez as que melhor tenham captado o desespero das vítimas e a dor pela morte de centenas de jovens (235 naquele 27 de janeiro de 2013 e sete nos meses seguintes) tenham sido as protagonizadas por Ezequiel Corte Real e Yasmin Müller.
O Brasil ainda não havia acordado naquele domingo quando o então estudante de educação física Ezequiel foi flagrado subindo a Rua dos Andradas, sem camisa, carregando um jovem desfalecido nos braços. A poucos metros dali, bombeiros ainda tentavam combater o fogo na casa noturna e socorristas acudiam os feridos, enquanto sobreviventes abriam buracos a marretadas nas paredes para que a fumaça saísse e outros se arriscavam a entrar no prédio em busca dos que ficaram para trás.
A foto registrada logo após o incêndio percorreu o mundo e estampou a capa de jornais como o The New York Times. Acabou virando símbolo dos heróis anônimos que surgiram em meio à tragédia: frequentadores que ajudaram a tirar feridos de dentro da casa noturna em brasa e impregnada de gases tóxicos, bombeiros, policiais, taxistas que levaram sobreviventes para hospitais, socorristas, médicos e enfermeiras que trataram as vítimas ao longo dos dias e meses seguintes, entre tantos outros.
O personal trainer, hoje com 25 anos, conta que naquele momento havia percebido que não havia mais ambulâncias que pudessem abrigar os feridos que ele e outros jovens estavam retirando da Kiss. “Estavam todas saindo, lotadas. Não tinha o que fazer. Fui correndo procurar ajuda, colocar na viatura da polícia”, recorda. Ezequiel perdeu a conta de quantas pessoas ajudou a socorrer. Com a camisa protegendo o rosto para não respirar a fumaça responsável pela grande maioria das mortes, entrou e saiu de dentro da casa noturna diversas vezes.
Um chapéu símbolo do luto Enquanto Ezequiel retirava sobreviventes de dentro da boate, Yasmin Müller, à época com 18 anos, procurava pelo namorado Lucas Dias, de 20 anos. Ela e o companheiro foram juntos à Kiss na noite de 26 de janeiro ver o show da Gurizada Fandangueira (cujo vocalista segurava o artefato pirotécnico que deu início ao incêndio) comemorar o seu aniversário de 19 anos, que seriam completados dois dias depois.
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